Published 2023-11-16

Caro vizinho,

Há vários anos vi numa revista estrangeira um artigo com o título “not to understand the economics of waste is a waste of economics”. Na altura achei piada ao jogo de palavras, mesmo que a afirmação estivesse e está totalmente correta. Quando separamos os resíduos para reciclagem, aquilo que já não queremos torna-se matéria-prima para um conjunto de entidades públicas e privadas que, todos os dias, promovem a reintrodução na economia de matérias-primas recicladas, seja numa nova garrafa de vidro, numa caixa de cartão, numa lata de conserva ou numa garrafa de água em plástico. Ao separarmos os nossos resíduos, reduzimos a intensidade de consumo de matérias-primas virgens e prolongamos a autonomia dos recursos do planeta.

Mas para lá desta visão mais industrial da sustentabilidade das soluções de embalagem, está o nosso dia-a-dia e a noção de que quanto menos resíduos gerarmos, mais reutilizarmos e mais reciclarmos, melhor será o nosso futuro e o dos nossos filhos neste planeta. Até porque a população mundial ainda não parou de aumentar e mais do que um uso eficiente dos recursos, não nos podemos esquecer que somos cada vez mais aqueles que necessitam de se vestir, comer, deslocar e ocasionalmente consumir energia elétrica para escrever um artigo, já sem luz natural.

Muitos de nós já incorporámos no piloto-automático do nosso quotidiano algo tão simples como a separação das embalagens usadas, dos restos de jardim, das pilhas, dos equipamentos elétricos e eletrónicos, mesmo que esse seja apenas um gesto de cidadania ambiental, entre tantos outros que contribuem para um planeta mais verde. Para nós, os já separadores, já é algo tão natural como colocar um cinto de segurança ou indicar o código postal na nossa morada. E fazemo-lo por convicção, porque acreditamos que faz sentido! Mas a convicção não chega para convencer toda uma população a separar sempre, todos os resíduos que gera. E é aqui que entra a economia, neste caso a doméstica.

Depois da alteração civilizacional que foi começarmos a pagar pelos sacos de plástico (mesmo que eles nunca tivessem sido gratuitos, mas isso é outra história) e de ver vizinhos a sair do supermercado abraçados às compras só para pouparem 10 cêntimos, não podia haver maior evidência que reagimos muito bem a estímulos financeiros e à disponibilidade de serviços convenientes. Por isso o futuro vai ser (tem de ser), passarmos a dispor de serviços de recolha seletiva mais convenientes e, por conveniência, refiro-me a proximidade, frequência de recolha, tipo de contentor e limpeza do espaço envolvente, mas também a ter uma maior noção do custo associado à gestão do nosso lixo comum (perdão, dos recursos que deitamos fora), porque afetará sempre nosso porta-moedas.

Manter um estilo de vida sustentável passa por consumir menos e consumir diferente, mas também mexe com as nossas escolhas de mobilidade e com um sem número de pequenas coisas que fazemos no nosso dia-a-dia. O que fazemos repetidamente acaba por nos definir e se pensarmos que a evolução das nossas vidas é um projeto sempre em curso, o importante é começar! Se quiser começar pela separação das embalagens e dos equipamentos avariados, melhor ainda 🙂